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ÁGUAS DE MARÇO

“São as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração”
Águas de Março - Tom Jobim

Profundas experiências místicas de fraternidade e luta vem sendo vivenciadas em Belém/PA, durante o mês de março. São momentos realizados em uma sintonia que, independente de religião, orientação sexual, cor/raça, sexo, idade, gênero e outras diferenças, testemunham “como é bom e agradável os irmãos viverem unidos” (Salmo 133). Quero destacar dentre estas, três ocasiões que participei e que me fizeram refletir/reafirmar o quão importante vem sendo o ecumenismo e o diálogo inter-religioso na capital paraense.

Na primeira sexta-feira (01), vivemos em comunhão com diversos países o Dia Mundial da Oração (DMO). Ele “é um movimento que reúne mulheres cristãs, de muitas tradições, em todo o mundo, para observar um dia comum de oração por ano”¹. Em 2013, as mulheres da França contribuíram com a elaboração da proposta de reflexão e animação a ser celebrada em todo mundo. O Evangelho de Mateus inspirou o tema “Era forasteiro e me hospedastes” (Mt 25,35), motivando à oração-reflexão-ação sobre a realidade de acolhida ao estrangeiro e do tráfico de pessoas.

Em nosso Estado, este momento é construído pelo movimento ecumênico, congregando diversas igrejas, entidades e pessoas cristãs, num cuidado que se revela na ornamentação do espaço celebrativo, na acolhida fraterna, na harmonia das vestes e das canções inculturadas, no alimento compartilhado, na oferta direcionada a projetos sociais apoiados anualmente pelo DMO, entre outros elementos. Uma liturgia expressa com simplicidade e riqueza, nos conectando ao Sagrado e também à vivência de imigrantes na França e em outras nações: suas dificuldades e superações, acolhidas e desprezos, conquistas e desafios.

Durante as comemorações do Dia Municipal e Estadual da Umbanda e outros cultos Afro-Brasileiros, fomos às ruas na IV Caminhada Pela Liberdade Religiosa. O centro da cidade na manhã de 17 de março, amanheceu ao som dos atabaques e agôgos, abrindo espaço para danças, saudações, intervenções políticas contra a intolerância religiosa e racismo. Subindo a Presidente Vargas, uma das importantes avenidas da cidade, os participantes defenderam o respeito e o reconhecimento da afroreligiosidade, levando o clamor contra a intolerância religiosa rumo à Praça da República. 

A memória de mãe Doca, também esteve presente durante a caminhada. Ela se tornou símbolo de resistência por ter sido a mulher que primeiro tocou tambor no Pará, enfrentando os ataques sofridos pelas comunidades de terreiro. Um pedaço de Aruanda construído pela relação com a natureza e o cuidado com o outro viveu-se naquele momento.

O martírio de Dom Oscar Romero em El Salvador também foi rememorado na noite do 23, durante Ofício dos Mártires da Caminhada. Celebramos a vida deste bispo que, nos passos de Jesus, assumiu a causa dos direitos humanos, denunciando sem medo a violência política, sendo, por isso, perseguido e assassinado  pela ditadura militar no dia 24 de março de 1980, enquanto presidia a missa. Buscou-se recordar a vida de quem tombou lutando pela justiça social, pelos empobrecidos(as).

Outros(as) mártires como Ir. Dorothy, Pe. Josimo, Chico Mendes, Ir. Adelaide, Pe. Gisley, Dom Hélder Câmara, Alexandre Vanucci, etc. também foram lembrados por seu compromisso em defesa da vida. Cada participante, com velas nas mãos ao redor da Palavra, alimentou-se das palavras do Evangelho de João que trazia o amor como maior mandamento (Jo 15,7-17), não numa relação de servidão, mas de amizade com Jesus e de compromisso com o Reino. O sangue das vidas dadas, a doação da própria vida como testemunho evangélico de amor, esteve presente nas orações, nas músicas, nas danças.

Problemas relacionados aos direitos humanos, meio ambiente, violência, saúde... tornaram deste um mês, mais kairós que cronos, nos desafiando a fé e questionando-nos sobre aquilo que realmente acreditamos e defendemos enquanto bem-viver. Balançados(as) entre o pessimismo e o otimismo, envolvidos(as) por sentimentos de preocupação, frustração e cansaço.

Entretanto, são águas de março que vão e vem, crises e soluções convivendo em um mesmo tempo e mesmo espaço, que necessitam existir, para que possamos rezar, lutar e festejar resistindo e não desistindo da promessa de vida em abundância para todos e todas.

  
 

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¹ Site do Dia Mundial da Oração: http://www.dmoracao.com/index.php?pagina=1334759358

BELÉM/PA: SEMINÁRIO BÍBLIA E JUVENTUDE


Jovens da Rede Ecumênica da Juventude (REJU/Amazônia), da Pastoral da Juventude (PJ – Igreja Católica Apóstólica Romana), da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, estiveram participando do “Seminário Bíblia e Juventude” que aconteceu nos dias 10 e 11 de novembro, no Centro Social Sagrada Família, em Ananindeua/PA. Organizado pelo Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/PA) em parceria com igrejas cristãs e organizações e ecumênicas, a atividade teve como principal objetivo levar as juventudes a conhecer as suas realidades e através de uma hermenêutica juvenil, buscar luzes nas Escrituras para o cuidado com a vida, contra a violência e o extermínio de jovens.

“Um olhar sobre a realidade das juventudes”, facilitado por Silvana Sarmento da assessoria da PJ, abordou a percepção dos(as) jovens no contexto cultural, político, econômico, social e religioso. A desigualdade e a diversidade, também foram trazidos como elementos presentes e que precisam de atenção para o desenvolvimento desta população juvenil.

Emanuel Messias e Ir. Tea Frigério do CEBI/PA, levaram os(as) participantes a refletir “quais as provocações para uma leitura/hermenêutica bíblica na ótica da juventude?”. Além de destacar a presença de jovens na Escritura, percebeu-se também o protagonismo juvenil na Bíblia, tendo como chave de leitura a “multiplicação dos pães e peixes” (Jo 6).

Como encaminhamento, criou-se um grupo que bimestralmente se reunirá para estudo bíblico e conduzir outras atividades ecumênica entre jovens, como os encontros semestrais, deixados como indicativo. Envolvido de mística, embalado pela arte e pela valorização da cultura, conclui-se a atividade com uma dança circular sagrada indígena e abraço fraterno.

A MÍSTICA, ENERGIA DE VIDA

"As grandes tradições orientais do Hinduísmo e do Budismo presenteiam a humanidade com místicas muito profundas. Hoje existem terapias baseadas em métodos de respiração oriental. No mundo, inteiro, muita gente faz ioga. Outras tradições espirituais como o Xamanismo têm outras propostas de misticismo. Em que consiste a mística cristã?”. Essa pergunta me foi dirigida em uma entrevista na televisão e muita gente a retoma com certa frequência. Não se trata apenas de uma questão religiosa em si, mas de saber qual é a contribuição da mística para que as pessoas possam ter uma vida mais equilibrada e sadia.

Mística tem a mesma raiz de mistério. Vem de um termo grego que significa iniciação. Diz respeito à intimidade mais profunda que motiva e impulsiona a vida interior de alguém e de um grupo. Como ninguém pode encontrar a Deus, nem ao outro ser humano, se não se encontra profundamente consigo mesmo, o cultivo da interioridade é básico em todas as tradições espirituais. Na Bíblia, um salmo ora: "Unifica o meu coração, para eu viver na intimidade do teu amor” (Sl 86, 11). Os místicos antigos se chamavam monges (o termo grego monos quer dizer uno) porque viviam para alcançar a unidade interior. São Gregório escreveu sobre São Bento que ele "habitava consigo mesmo”. Essa busca da unidade interior é graça divina, mas pede um cultivo. Não acontece espontaneamente e sem método. Alguns elementos desse caminho são universais e ecumênicos. Outros são próprios de uma ou outra tradição. O Cristianismo antigo herdou das religiões orientais a técnica da meditação, retomou a repetição de um mantra ou invocação (por exemplo, a oração do nome de Jesus). Refez costumes como a peregrinação e a importância da solidariedade e da partilha. Essas duas dimensões (a interior e a social) se completam uma a outra. O Budismo faz da esmola uma exigência prévia para alguém ser monge. O Islã também coloca a misericórdia com o outro como mandamento fundamental. O Cristianismo insiste que se a gente não se relaciona com o irmão a quem vê não pode se relacionar com Deus a quem não vê (Cf. 1 Jo 4, 20). Dietrich Bonhoeffer, teólogo, vítima do nazismo, dizia: "O Cristo está em mim para você e está em você para mim. Ele está em mim, mas eu só o encontro em você e está em você, mas você só pode encontrá-lo em mim”.

Hoje, existem grupos espiritualistas que desenvolvem um tipo de espiritualidade baseada na autoajuda, em cuidados consigo mesmo e com a saúde. Esse tipo de caminho é legítimo e pode ser até importante, mas não chega a ser verdadeiramente um caminho espiritual, enquanto não nos leve a sair de uma autoajuda de tipo egoísta para nos colocar em comunhão com os outros e com todo o cosmos.

Em um mundo agitado e uma sociedade agressivamente competitiva, a contribuição mais importante de uma mística ecumênica é nos tornar capazes de sermos pessoas de profunda escuta do outro, capazes de comunhão universal e profundamente solidários com o destino da humanidade. Na primeira vez em que o Dalai Lama veio a São Paulo, alguém lhe perguntou como, na cidade grande, desenvolver um caminho místico. Ele respondeu: "Toda pessoa tem dentro de si uma semente de compaixão. Você é uma pessoa mística quando a desenvolve e a faz transformar-se em uma árvore que se identifica com o seu modo de viver”.
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MARCELO BARROS
Monge beneditino e escritor

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PARTICIPE DA CAMPANHA "A BÍBLIA NA VIDA"

É uma alegria recordar experiências que contribuíram significativamente para minha vida. Nesta estrada, tive a oportunidade de conhecer o Centro de Estudos Bíblicos – CEBI, ao qual quero dedicar profundamente estas palavras e convidar que por estas linhas passar a aderir a Campanha “Bíblia na Vida”.

Minha aproximação com o CEBI começou na minha adolescência através das Escolas Bíblicas realizadas na Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz (Benguí, Belém/PA). Grande parte dos(as) participantes tinham algo muito em comum: viviam em um bairro atingido pelo empobrecimento social. E era a partir desta realidade também que as reflexões bíblicas partiam, fazendo um paralelo entre o antigo/novo testamento e o “pós-moderno testamento” vivido também ali naquela localidade.

Ainda consigo sentir o cheiro e o sabor das manhãs de domingo em que nos encontrávamos com Pe. Francisco Rubeaux em uma pequena escola pública para conhecer pouco a pouco a história do Povo de Deus. Éramos levados(as) a nos perceber também, parte deste povo e por isto tínhamos a função profética e missionária de assumir o compromisso com os(as) excluídos(as). Voltávamos para nossas comunidades e grupos, com o coração aquecido e dispostos(as) a ser testemunhas destas coisas (Lc 24,48).

A música e a poesia popular nos sintonizava com os textos. Canções como: “Toda Bíblia é comunicação...” ou “A Bíblia é a Palavra de Deus semeada no meio do povo...” animavam nossa mística nos impulsionando cada vez mais a adentrar na Palavra. Mergulhávamos também na sabedoria dos salmos e dos cânticos bíblicos como o de Miriam e Moisés “Minha força e meu canto é o Senhor, salvação ele se fez para mim...” ou de Maria “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome...”, dentre outros.

Mais do que cumprir uma carga horária ou uma agenda institucional, estas Escolas Bíblicas do CEBI tinham como principal propósito instrumentalizar lideranças no serviço por elas desenvolvido nas Comunidades Eclesiais de Base e nos movimentos sociais. Tanto que por muito tempo fiquei participando delas e somente depois de um certo tempo “migrei” para o Grupo de Aprofundamento.

Através desta metodologia popular e orante que o CEBI desenvolvia conosco, levando em consideração nossas limitações e potencializando nossas capacidades, fui percebendo então o quanto era importante conhecer as Sagradas Escrituras e incorpora-la em dentro da minha vida pastoral e social. O método de “leitura dos quatro lados” (social, político, econômico e ideológico) despertava em nós um olhar crítico e pé-no-chão a cerca das realidades bíblicas históricas e atuais.

Em 2008, tive a possibilidade de participar na Casa da Juventude Pe. Burnier (Goiânia/GO) da Escola Bíblica para Jovens. Uma proposta realizada no serrado e em alguns lugares do Brasil, específica para a juventude, levando em consideração seu modo de ser. Com a assessoria animadora de Mercedes de Budalles, que com criatividade tornou o estudo mais dinâmico. A arte e o lúdico, a vivência da espiritualidade com Ofício Divino da Juventude também foram elementos essenciais que contribuíram significativamente para o envolvimento dos(as) participantes com a atividade e entre si.

Hoje não estou no CEBI, mas sinto o CEBI em mim, continuando como uma grande referência na minha militância. Meus “últimos” reencontros com o CEBI aconteceram este ano no Dia Mundial da Oração – onde ele sempre contribui na organização desta celebração em minha cidade – e numa atividade da Pastoral da Juventude na Arquidiocese de Belém, através da importante participação de Ir. Tea Frigerio, religiosa xaveriana e assessora do CEBI, nos ajudando a refletir sobre a dimensão do cuidado com a missão e com a juventude. Além disso, estive presente numa das reuniões de preparação par o Seminário de Bíblia e Juventude(s) que acontecerá em Belém/PA. Este último contato se deu com a minha ida pela primeira vez em sua sede estadual, localizada dentro de um bairro periférico da metrópole da Amazônia.

Portanto, precisamos unir-nos em solidariedade e contribuir com a Campanha “Bíblia na Vida” que tem por objetivo a mobilização de recursos para a ampliação dos projetos do CEBI de Leitura Popular e Comunitária da Bíblia. É tempo de viver a experiência das primeiras comunidades cristãs e em comum para o bem comum, em vista daquilo que o CEBI oferece a mais de 30 anos no Brasil e em diversos lugares do mundo numa perspectiva libertadora, comprometida com os(as) empobrecidos(as).

No Estado do Pará, você pode obter maiores informações através dos seguintes contatos:
R. Generalíssimo Deodoro, Pass. José Pires, nº 8 – Cremação. CEP: 66045-600 | Belém – PA
Telefone: (91) 32522650 ou (91)82063311 E-mail : cebipara@yahoo.com.br (Zulema e Celina).

A responsabilidade do CEBI na formação bíblica e para cidadania, necessita também de nossa responsabilidade, nossa contribuição. Por isso, é importante mobilizar todos(as) nos diversos lugares que se encontram, sensibilizá-los(as) a cerca da importância deste serviço em nossas comunidades. Com esta partilha, não estaremos somente doando algum valor financeiro, como meros patrocinadores(as) do CEBI, mas estaremos sendo parceiros(as) construtores(as) do Reino fazendo valer o nosso amor pela Palavra e pela vida!