PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS PROSTITUTAS

Estou tentando digerir a última do Ministério da Saúde. Um tanto difícil, pois ainda encontro-me entalado com os vetos da Campanha de Carnaval com foco nos jovens gays e das histórias em quadrinhos do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE). Ingenuidade seria pensar que estes fatos não tem haver com as eleições 2014 em São Paulo e com as forças conservadores presentes no legislativo e no executivo, tentando forçar as portas do judiciário. 

Inúmeras as notas de repúdio e atos públicos que denunciam esta atitude retrograda de suspender subsídios que aliam saúde e direitos humanos, isto é, estratégia de prevenção à visibilidade das prostitutas, que historicamente são vítimas do empobrecimento social. Além disso, a exoneração do Dr. Dirceu Greco do cargo de diretor do Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais, reforça o ditatorialismo que conduz à falência a política brasileira de Aids. 

Numa atitude meio pra não dizer que não falei das prostitutas, uma das peças voltam com outra frase sem ser a inicial: “eu sou feliz sendo prostituta”. Entre o original e o genérico, o último custará menos nesta relação moralista de poder e oportunismos que se estabeleceu. Este retrocesso poderia ser chamado também de putaria, mas não cabe o termo justamente pra não ofender as “putas” que com coragem assumem para todo Brasil sua felicidade. 

O ditado “se explicar, piora” cai muito bem às tentativas de se justificar a suspensão do material. Não é o individual que estrategicamente vai aproximar o público específico? Se não me vejo numa propaganda, com certeza é bem menor a possibilidade de me sentir atingido e/ou motivado ao que ela está me propondo. Agora, fazer política “para” os vulneráveis, é bem diferente que fazer “com” e não dá pra afirmar que quem está dentro do movimento não está na mesma (falta de) condição que seus pares e que não os representa. 

A atitude de Eduardo Barbosa e Ruy Burgos que estavam diretores-adjuntos deste mesmo Departamento, ao pedir a saída após a demissão do Dr. Greco, revela a dignidade e o compromisso com a causa. Além disso, reforçam na prática que não basta somente antirretrovirais e preservativos, mas que o diálogo e a ousadia/coragem são extremamente necessários na luta contra a Aids e o preconceito que nos impedem de viver plenamente.