Em mais de trinta anos da sua
descoberta, a Aids ainda é novidade pra muita gente. Além do HIV continuar
fazendo milhares vítimas no Brasil e no mundo, ele ainda é “desconhecido” ou
velado em diversos lugares. A grande questão, é que a epidemia vem crescendo cada
vez mais entre os(as) adolescentes e jovens, se tornando uma vivência
compartilhada entre seus/suas familiares e amigos(as).
Num país onde a saúde pública é um dos principais problemas e as políticas de
juventude ainda são utopias, que de forma arrastada tentam sair do papel, não é de estranhar esse “vale a
pena ver de novo” no aumento de infectados(as) nesta faixa etária pelo HIV. Pode
ser até “comum” esta incidência, mas não deve ser naturalizada ou tratada como
algo banal.
São milhões destinados a compra de insumos de prevenção e medicamentos, em
campanhas publicitárias e materiais gráficos para divulgação, em pesquisas e
pagamento de recursos humanos para atuar nas unidades de testagem e
tratamento... Muito dinheiro e ainda temos uma epidemia lotando os leitos de
hospitais, colocando o norte e nordeste em estado (e em Estados) de alerta. O
que está faltando?
Pesquisadores(as) provocados(as) por esta situação, contando depois com a
adesão do Movimento Nacional de Luta Contra a Aids externaram sua insônia
através do manifesto: “Aids no Brasil hoje: o que nos tira o sono?” Os gritos
silenciados, mas evidentes, foram chegando em diversos lugares do país, somando
a muitas vozes que já denunciavam o retrocesso da política de Aids nos Estados
e municípios, que agora era uníssono também na esfera federal. Jovens até se
perguntavam: o SPE está passando por onde? E o Plano de enfrentamento à
juvenização, deixará de ser lenda?
Gera
mais inquietação, quando a realidade é confirmada através do trecho da música:
“o jovem no Brasil não é levado a sério”. Estamos falando de uma população de
grandes potencialidades que historicamente é taxada mais como problema, que
solução. Como “ninguém” quer problema perto de si, é melhor afastar ou por fim.
Será isto então que motiva o genocídio à juventude negra e a redução da
maioridade penal?
O que é mesmo protagonismo juvenil?
Será um paneiro de conceitos e poucas ações? Um alguidá de ideias, cercado de
tutelas e preconceitos? Substantivo ou adjetivo? O fato é que quando não
acreditamos na autonomia destes(as) jovens, não valerá a pena a
promoção da saúde na perspectiva da educação entre pares. Assim como não terá
tanta eficácia, uma ação “para” a juventude, mas “com” a juventude, adotando a
disciplina da escuta como exercício para a descoberta do novo.
As três décadas de combate a Aids, não
podem retroceder através de discursos tendenciosos e oportunistas. Assim como o
incentivo político-financeiro, não deve ser tratado como exclusividade, mas
como prioridade. A juventude não deve ser tratada como mera coadjuvante, tampouco
com tutela ou desprezo, mas sendo levando em aliando a construção da sua
identidade e de sua autonomia a capacidade mobilizadora de transformar. Afinal,
este é um trabalho que não nasce do nada para lugar nenhum, mas também tem como
ponto de partida a vida dos(as) adolescentes e jovens.
Neste sentido, vale ressaltar que o “ativismo
virtual” deve ser consequência do trabalho de base, a sociedade civil
organizada estabelecendo o diálogo constante com os governos sem que perca sua identidade
e as estratégias de prevenção pautadas nas novas tecnologias construídas
mutuamente. A metodologia de educação entre pares e a educomunicação protagonizadas
pelos(as) jovens, podem até não resolver todos os desafios atuais, mas poderá
amenizar o sono de quem tira e/ou de quem está vivendo esta insônia “induzida”.